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A Integridade Acadêmica e o futuro das Instituições de Ensino Superior

Luciano Sathler
Dr. Luciano Sathler
Reitor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Membro do Conselho Científico da ABED.

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Dentre os males que a pandemia Covid-19 trouxe consigo está a maior disseminação da praga do plágio e da desonestidade acadêmica.

Foi um ato heróico e necessário todas as escolas e Instituições de Ensino Superior (IES) do mundo serem obrigadas a tentar migrar para a educação a distância de forma abrupta, sem planejamento, com pouca ou nenhuma capacitação prévia e, muitas vezes, sem contar com os recursos adequados.

Porém, um dos efeitos colaterais indesejados foi o aumento dos casos de plágio e outros comportamentos não éticos por parte de alguns discentes, docentes e pesquisadores, o que pede ações para promover a Integridade Acadêmica.

A facilidade de usar os recursos digitais para praticar o plágio, o autoplágio e a má conduta científica tem sido um problema tanto no ensino presencial, quanto nos cursos ofertados a distância (EAD), já há alguns anos.

A informação está disponível em diferentes formatos e línguas, sendo a tradução de textos muito facilitada pelos recursos automatizados cada vez mais sofisticados. Existem empresas que navegam em uma linha tênue entre uma tutoria personalizada, o peer-to-peer (estudantes que colaboram entre si) e a indústria do plágio. Há relatos de pessoas contratadas para realizar trabalhos e avaliações no lugar de outras, um caso claro de fraude acadêmica.

A cultura da Integridade Acadêmica é um espírito e clima organizacional que informa e promove o comportamento ético e aborda as falhas nesse campo de maneira eficaz e eficiente.

Culturas de integridade ajudam a construir comunidades de confiança que influenciam estratégias, condutas e atividades em instituições educacionais e de pesquisa.

Por exemplo, a honestidade é necessária para que os alunos realmente aprendam e seus diplomas tenham valor. Esse é um componente fundamental na construção e fortalecimento da reputação das IES.

A reputação de uma IES é sua principal vantagem competitiva num cenário de ociosidade crescente diante da forte expansão no número de vagas, guerra fratricida de preços e limitações nos recursos públicos.

Em 2020, mais de 8,6 milhões de matrículas foram registradas pelo Censo da Educação Superior do INEP. Pela primeira vez na história, a quantidade de alunos que ingressou em cursos EAD ultrapassou o total de calouros nos cursos de graduação presenciais — dos cerca de 3,7 milhões de ingressantes, mais de 2 milhões (53,4%) optaram por cursos a distância e 1,7 milhão (46,6%), pelos presenciais.

Das 19,6 milhões de vagas disponibilizadas, somente 3,7 milhões de estudantes ingressaram em um curso de graduação em 2020. O nível de ociosidade aumentou substancialmente.

Um diploma de uma universidade onde a honestidade e a Integridade Acadêmica não são apreciadas tende a não ser valorizado por um empregador quando os alunos ingressam no local de trabalho, principalmente se não representa com precisão as capacidades do aluno.

Por maiores que sejam as verbas de marketing aplicadas na captação, ou por mais sofisticadas que sejam as ferramentas adotadas para evitar a evasão, o que garante a perenidade de uma IES são os resultados verificáveis na aprendizagem e na formação do egresso.

Além disso, quando se trata de prática profissional, pode ser muito arriscado para a sociedade ter pessoas que trabalham em cargos de responsabilidade sem o conhecimento necessário para esse campo, por exemplo, nas profissões da saúde, jurídica, engenharias e contabilidade. Algo que se estende a todos os âmbitos do saber e a todas as ocupações profissionais.

Os discentes precisam ser orientados para aprenderem a diferenciar os limites entre uma citação acadêmica legítima e a autoria.

O termo autoria refere-se ao criador ou originador de uma ideia. Várias disciplinas têm normas, diretrizes e regras que regem a autoria; algumas dessas regras preservam a linhagem de ideias ou trabalhos, a concepção e produção de estudos ou experimentos para validar a teoria, a análise de resultados e a própria redação do trabalho para disseminar o conhecimento.

Os autores são responsáveis por seguir as diretrizes específicas da disciplina quando se envolvem em atividades de autoria. As ações preventivas são mais importantes do que as punitivas para evitar o plágio. Quando nos deparamos com casos flagrantes em que nada acontece, facilmente pode-se criar a cultura de que é algo comum e aceito por todos.

Portanto, ter uma estratégia que promova a Integridade Acadêmica tornou-se um fundamento para fortalecer a reputação de uma IES e permitir sua sustentabilidade ao longo dos próximos anos.


Clique abaixo e assista à webinar sobre o tema, com os convidados Luciano Sathler, Janes Tomelin (UniCesumar) e Rita Maria Tarcia (Unifesp), que aconteceu dia 06 de abril de 2022.